Lacan é difícil. Essa frase é repetida por muitos que buscam a psicanálise. A leitura da obra de Jacques Lacan coloca em jogo um saber fora dos caminhos conhecidos para a compreensão de uma teoria. Lacan foi um crítico da psicanálise de sua época, para muitos ele reinventou a psicanálise, atualizou a prática clínica, renovou o aspecto teórico-conceitual, como também considerou a formação do analista como um problema crucial para a psicanálise.
Para colocar em movimento a leitura do texto lacaniano, propomos uma discussão a partir da trajetória da formação dos conceitos lacanianos centrais, uma espécie de cartografia conceitual. Nosso ponto de partida é sua tese de doutorado: Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade (1932), a qual é marcada pela articulação entre psiquiatria e psicanálise. A seguir, retomamos o esquema do estádio do espelho, o qual Lacan apresentou pela primeira vez no congresso psicanalítico de Marienbad, 1936, o texto “Estádio do espelho como formador do eu” (1949), versão publicada nos Escritos, no qual o autor coloca a problemática do eu na teoria freudiana.
No congresso de Roma (1953), Lacan apresenta um texto fundamental, considerado como um ponto de inflexão da psicanálise, “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”. Nesse momento temos a primazia do simbólico, Lacan influenciado pela Linguística estruturalista, desenvolveu o postulado de que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”
E, por fim, abordaremos a formulação elaborada a partir do seminário XX Mais Ainda, no qual, Lacan faz uma torção fundamental na noção de inconsciente. O autor não mais toma o “inconsciente estruturado como uma linguagem”, mas o entende estruturado por uma linguagem, momento das pesquisas de Lacan marcado pela influência da lógica.