Para Freud, a clínica é soberana, as questões que surgem na clínica nos levam a pensar e teorizar. As mudanças sociais implicam na alteração do laço social, o que nos leva a considerar o surgimento de novos sintomas. No texto Mal-estar na civilização, Freud (1930), alerta: cada época produz os seus sintomas. Na época de Freud a sociedade era organizada de forma vertical, pelo saber, um sabe. O laço social era vertical, piramidal e o pai ficava no alto da pirâmide. Porque ele detinha o saber, os sintomas podiam ser tratados pelo sentido, pela interpretação. Uma análise levava o analisante a uma compreensão a respeito do seu sofrimento. O software criado por Freud, “Complexo de Édipo”, explicava o processo de construção da subjetividade e orientava o psicodiagnóstico psicanalítico. Esse software funcionou até o início da segunda metade do século passado.
O psicanalista francês Jacques Lacan, no final dos anos 60 do século XX, alertou para a mudança no laço social. A sociedade estava em profunda transformação, a orientação deixava de ser vertical para um formato horizontal, o saber se generalizou, a sociedade passou a funcionar no formato de rede. Uma nova subjetividade surgia, os novos sintomas apontavam para as novas formas de se viver num mundo pós-moderno.
Frente às mudanças ocorridas na sociedade pós-moderna, o psicanalista refere que o exercício psicanalítico deve mudar. Ele se dedica nos últimos dez anos de seu ensino a elaborar uma clínica que responda a essas transformações. Essa nova clínica psicanalítica é chamada Clinica do Real, Segunda Clínica Lacaniana, na qual toma o Real como paradigma. Uma clínica para o sujeito dos novos tempos. A clínica exigiu mudanças, assim, propomos uma discussão a respeito dessas mudanças, da saída da clínica do simbólico para a clínica do real.