Para Peter Gay, o destino de Freud “era o de perturbar o sono da humanidade” (1989, p.21). O historiador considera o livro “Interpretação dos Sonhos” (Freud, 1900) um clássico revolucionário e o relaciona com outro livro, “A origem das espécies” de Charles Darwin, primeira publicação em 1859, o qual o considera um texto subversivo. Ambos provocaram um descentramento do pensamento dominante de suas épocas. No final do século XIX, o sintoma da histeria movimentava as discussões médicas, era consenso que a origem do sintoma era exclusivamente um fator biológico. Freud desmonta essa ideia e coloca em jogo uma nova perspectiva, a saber: (1) a gênese da histeria não se deve, exclusivamente a um fator biológico, mas considera há existência de um fator psíquico, abandona a perspectiva orgânica (cérebro) e toma a psique como perspectiva. (2) descentra da consciência a resposta para os distúrbios psíquicos, e considera que os conteúdos inconscientes são o caminho para a compreensão da psicopatologia.
A partir desses pressupostos, Freud inaugura uma nova ciência, a psicanálise. Essencialmente uma práxis clínica. Em contrapartida ao sujeito cartesiano, pensamento dominante da época, o psicanalista concebe um novo sujeito, o sujeito do inconsciente. Como também inaugura uma nova psicopatologia, o termo patos é tomado na perspectiva de sofrimento, o qual não pode ser compreendido sem considerar a relação entre o sujeito e a cultura. Freud inventa uma nova teoria, método e técnica para a direção do tratamento psíquico. Essa invenção escancarou a inexistência de uma resposta universal para os males da alma, apontou para a singularidade de cada um, a criatividade e a responsabilidade de se inventar e reinventar no mundo.